Instituição articula com governos, outras instituições ambientais e proprietários rurais
A restauração e a conservação florestal em Cruzeiro, no Vale do Paraíba (SP), possuem um aliado estratégico: o Sindicato Rural do município. A instituição tem se destacado na recuperação da vegetação nativa e no engajamento dos proprietários rurais, alterando a paisagem da região e constituindo um elo importante entre governos, outras instituições ambientais e proprietários rurais locais.
Fabiano Haddad Collard, engenheiro agrônomo responsável pelos projetos ambientais do Sindicato Rural de Cruzeiro, conta como busca integrar a preservação dos ecossistemas e a cadeia produtiva: “Sempre estivemos atentos às questões ambientais, participando de conselhos como o da APA da Serra da Mantiqueira (CONAPAM) e do Comitê de Bacias Hidrográficas do Paraíba do Sul, por exemplo. Queremos conhecer o que está sendo feito em outros locais, as ações positivas para transmitir aos proprietários rurais, que estão na ponta. Sabemos que cuidar dos recursos naturais é fundamental para a sobrevivência da atividade agropecuária a longo prazo”.
A Secretaria de Meio Ambiente de Cruzeiro propôs leis ambientais, implementou projetos de conservação e quer ampliar as áreas protegidas do município. Para isso, o apoio do Sindicato Rural tem sido fundamental, principalmente para mobilizar os proprietários. Segundo Fabiano, “O engajamento ainda é um gargalo, precisamos que os produtores expandam a consciência ambiental. A nova geração é mais aberta e valoriza a conservação, enquanto os antigos resistem em aderir a uma nova forma de uso do solo. Precisamos mostrar que, se não recuperarmos as áreas degradadas, preservando as matas e as nascentes, o futuro está comprometido”.
Wander Bastos, Secretário do Meio Ambiente e Presidente do Sindicato Rural, conta sobre o trabalho realizado no município: “Propomos ao proprietário rural a adequação ambiental e a recuperação e restauração de nascentes e mata ciliares, conforme prevê a Lei Ambiental. Com o tempo, mostramos como melhorar a drenagem das áreas, aumentando a eficiência da produção. Quem adere aos programas ganha acesso a mais serviços, como fossa sépticas e mudas de nativas e frutíferas, que podem ser usadas para a produção de sementes, incentivando o surgimento de novas cadeias produtivas na região”.
Com esse espirito, o Sindicato Rural, em parceria com a FAESP (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo) e o SENAR (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), oferece capacitação para os proprietários. A agenda de fevereiro trouxe cursos sobre florestamento, outorga para uso e ou interferência nos recursos hídricos, boas práticas de uso e conservação da água na propriedade rural, nutrição biológica e piscicultura. Fabiano acredita que “Com a disseminação das informações, os proprietários se conscientizam de que cuidar do meio ambiente não é sinônimo de prejuízo, e de que investir em restauração florestal pode gerar novas fontes de renda, como a venda de sementes nativas para restauração em outras áreas, um mercado que está aquecido. Ao aprender a fazer o manejo ambiental das nascentes, por exemplo, a propriedade se valoriza com a melhora da quantidade e qualidade dos recursos hídricos. Quem cuida do agora, recuperando matas ciliares e nascentes, cuida do amanhã, mantém a biodiversidade e protege a água. Nossa missão é ajudar o produtor rural entender e adotar essas práticas”.
Carlos Antônio, proprietário da Fazenda Santana – que possui 66% de área preservada -, onde desenvolve apicultura, além de pecuária de corte, reconhece que regenerar e preservar o meio ambiente traz resultados positivos: “A conservação florestal traz muitos benefícios, sendo um dos principais a preservação dos recursos hídricos. Para manter minha atividade econômica, preciso de água. As árvores em pé são essenciais para manutenção das abelhas”. A fazenda participa de um dos projetos da Fehidro no município e já sediou evento sobre técnicas de restauração florestal, realizado pelo Sindicato Rural de Cruzeiro e Prefeitura de Lavrinhas (SP), e que contou com palestrantes do IPA (Instituto de Pesquisas Ambientais), Sindicato Rural de Cruzeiro, UNESP (Universidade Estadual Paulista), Fundação Florestal, Caminhos da Semente e TNC Brasil.
Para garantir esse movimento em escala, o Sindicato conta também com parcerias com a TNC Brasil e WWF Brasil, que contemplam iniciativas de restauração florestal nas três Microbacias Hidrográficas da região – Bacia do Rio da Água Limpa, Batedor e Brejetuba -, áreas em processo de degradação e de grande importância para o abastecimento público. “Esses projetos e parcerias são muito importantes para o município, aumentando a qualidade e a quantidade de água nas cabeceiras e melhorando o abastecimento da cidade, além de ampliarem a cobertura vegetal, trazendo mais recursos através do ICMS verde, entre outros benefícios. Também incentivam a contratação de mão de obra local, além da compra de insumos na região, o que aumenta a distribuição de recursos financeiros, contemplando vários parceiros locais”, argumenta Fabiano.
Em 2023, o Sindicato Rural segue com o trabalho de engajamento e capacitação dos produtores rurais, além de contribuir com a Secretaria de Meio Ambiente no mapeamento das áreas de importância hídrica degradadas no município. “Iniciamos novos projetos de conservação do solo e de neutralização de carbono. Pretendemos mensurar pastagens e florestas, considerando a área total das propriedades. Queremos cuidar do ambiente rural, e a produção será uma consequência. Acreditamos que o produtor que não conservar o solo e a água e não tratar seus dejetos com aproveitamento na produção não será eficiente e não se manterá. Já aquele que fizer a lição de casa será parte das soluções dos problemas ambientais”, conclui o secretário Wander.
Projetos
Conheça o que está sendo feito em Cruzeiro e que, de alguma forma, contou com o apoio do Sindicato Rural:
Projeto Fehidro Brejetuba – Atingiu 90,2 hectares de restauração e está implementando 23 fossas sépticas em propriedades contempladas;
Projeto Refloresta – Complementa o projeto acima, fortalecendo a restauração local, contando com monitoramento por drones e com 15 hectares de plantio de mudas para a formação de pomares de semente de 30 espécies arbóreas nativas de importância ecológica e econômica. Há ainda a previsão de Pagamento por Serviços Ambientais para os proprietários que aderiram ao projeto Fehidro do Brejetuba – Cantagalo;
Projeto Fehidro Batedor – Está na segunda etapa, conta com 25 hectares para semeadura direta e a construção de um viveiro para atender os próximos plantios dentro da fazenda Batedor, com produção de até 30.000 mudas/ano. Lembrando que o Fehidro é um fundo Estadual que tem como objetivo financiar programas e ações na área de recursos hídricos;
Projeto Bacia do Rio Batedor – Já contabiliza 84 hectares de área restaurada, dividida em 74 hectares com plantio de mudas de espécies arbóreas nativas e 10 hectares com semeadura direta por muvuca de sementes. Hoje, essa bacia responde por 80% do fornecimento de água do município. Outro exemplo é o da Bacia do Rio da Água limpa – responsável pelo restante do abastecimento -, com 15,83 hectares em restauração, sendo 10,2 hectares com semeadura direta, 4,96 hectares com plantio de mudas de espécies arbóreas nativas e 0,67 hectares de sistema de agrofloresta (SAF), com frutíferas e espécies nativas.