É possível conciliar conservação e restauração florestal com agropecuária? 

9 de Fevereiro de 2023

Envolvimento e capacitação dos produtores rurais são essenciais 

A Mata Atlântica possui uma grande parte de terras destinadas à agropecuária, com milhões de hectares de áreas subutilizadas com pastagens degradadas na região da Mantiqueira. Conciliar atividades produtivas com a restauração e conservação da vegetação nativa é um desafio permanente. Para isso, o Conservador da Mantiqueira contribui com ações de capacitação e disseminação de conhecimento para adequação ambiental e implementação de boas práticas para agropecuária sustentável.      

O tema tem atraído cada vez mais a atenção dos proprietários rurais, que começam a enxergar os benefícios em cuidar do meio ambiente. Para Cléber Soares, produtor rural em Pouso Alto (MG), a conservação e restauração florestal é um caminho sem volta: “Precisamos pensar no bem-estar dos nossos filhos e netos. O que queremos deixar para as futuras gerações? Meu pai cuidou das matas da nossa terra e me deixou esse legado”. Cléber é proprietário da Fazenda Primavera, que participa do projeto Restauração Florestal na Mantiqueira, onde serão restaurados 17,1 hectares utilizando técnicas de condução da regeneração natural e plantio de muvuca de sementes.  

Não é possível dissociar a região da produção agropecuária, respondendo a Mata Atlântica pelo fornecimento de grande parte da produção de alimentos de consumo direto no país, entre origem vegetal e animal. Daí a necessidade de disseminar práticas que tragam equilíbrio a essa balança, como a agricultura regenerativa e a pecuária sustentável – modelos de produção que propõem que é possível produzir enquanto se recupera a terra e se preserva o meio ambiente, restaurando áreas degradadas, conservando espécies animais e aumentando a captura e manutenção de carbono no solo, assim como garantindo bem-estar animal e responsabilidade social.   

Para Julio Tymus, coordenador de restauração da TNC Brasil, “As ações de assistência técnica e extensão rural precisam ser repensadas considerando o contexto socioeconômico e ambiental da Mata Atlântica, especialmente na região da Mantiqueira. O futuro pede inovação, com investimentos em Sistemas Agroflorestais para produção de alimentos saudáveis, em Sistemas de Silvicultura de espécies nativas e na atividade pecuária para gerar mais renda para o produtor ao mesmo tempo que reduz impactos ambientais, comumente associados a modelos convencionais de produção”.  

Para garantir bons resultados em escala, o envolvimento do produtor é essencial, já que grande parte da vegetação da Mata Atlântica, remanescente ou em regeneração, está em área rural, e a maioria dessas terras são privadas. O desafio é atingir esses proprietários para apresentar os benefícios das práticas sustentáveis, que podem contribuir para aumentar a sua produção.  

No âmbito do Conservador da Mantiqueira, buscamos auxiliar tecnicamente o trabalho dos produtores rurais, especialmente aqueles vinculados a agricultura familiar – principal responsável pela produção dos alimentos para o consumo da população brasileira. Para isso, são desenvolvidas ações de transferência de tecnologia e conhecimento, por meio de capacitação e assistência técnica especializada, buscando intensificar de forma sustentável diferentes sistemas produtivos. No segmento da pecuária de leite, atividade econômica de destaque na Serra da Mantiqueira, produtores rurais recebem orientação para recuperação, adubação e melhoria da qualidade de pastagens, uso de pastejo rotacionado e ajustes de dieta e estrutura de rebanho, assim como treinamentos sobre gestão financeira de empreendimentos rurais.

“Estimulamos boas práticas produtivas, buscamos criar condições favoráveis e apoio político para integrar a conservação do meio ambiente com o desenvolvimento econômico. Essa articulação é fundamental para conseguirmos transformar a cultura de que na agropecuária não há espaço para a conservação ambiental. Com todas essas ações, tornamos esse desafio possível.”, conclui Julio.  

Em todas as propriedades atendidas, também é realizado o trabalho de diagnóstico e adequação ambiental – nos casos onde existe a necessidade de recuperação de áreas de preservação permanente e/ou reserva legal – e o trabalho de planejamento de uso das áreas produtivas, através da implementação de sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta e/ou Sistemas Agroflorestais, visando a diversificação das fontes de renda e o aumento da cobertura florestal tanto das propriedades como da paisagem natural. Também são sugeridas boas práticas para aprimorar o manejo do solo e aumentar a disponibilidade e qualidade de água, com plantio em curvas de nível, construção de bacias de contenção – conhecidas como barraginhas – e saneamento rural, por exemplo.  

“Não sou o único a pensar dessa forma, essa visão é uma tendência”, conta Cléber, que participou recentemente de um curso sobre turismo rural com mais 15 proprietários no Sul de Minas. “Sabendo administrar, há espaço para tudo. É só limitar o local do gado, da horta e da floresta, fazer o manejo correto e seguir com o planejamento.”, conclui.  

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