De semente a muda: as plantas nativas na restauração florestal da Mata Atlântica  

26 de Junho de 2023

Cadeia da restauração de ecossistemas contribui para geração de empregos e desenvolvimento econômico em áreas rurais 

Quando o assunto é restauração florestal, logo imaginamos as mudas prontas indo para terra, mas não consideramos o caminho que elas fazem até o plantio. O processo envolve muita pesquisa, coleta de sementes, germinação, preparo do solo… Enfim, são muitas as etapas necessárias para garantir a restauração das matas com espécies nativas, trabalho que continua com o monitoramento e o controle para que tudo dê certo. 

Tudo começa com a escolha da semente, mais precisamente com a sua coleta e seleção. Não existe um padrão para todas as espécies, cada uma com ciclos e características próprios. Há espécies que dão frutos mais de uma vez ao ano, enquanto outras levam mais tempo para voltar a produzir, como é o caso da peroba-rosa, que dá frutos a cada 4 anos. “O importante dessa etapa é não coletar todas as sementes de uma única árvore matriz, já que é fundamental que ela também possa alimentar animais, aves e insetos, além de muitas germinarem naturalmente em contato ao solo, garantindo a regeneração natural”, salienta Flávia Balderi, secretária executiva e coordenadora do Viveiro Florestal da Copaíba.  

Flavia também fala sobre a importância de escolher espécies nativas, mais adaptadas a região, para a restauração ser bem sucedida. “Como nosso viveiro tem o foco em conservar a biodiversidade regional, produzimos as mudas com esse olhar para usarmos nas áreas que vamos restaurar. As condições ambientais, climáticas, de relevo daqueles ecossistemas estão direcionados para produção dessas mudas que vão para as áreas que estamos plantando. Assim, a chance de ter sucesso na restauração ecológica é muito maior”. Além disso, a vegetação nativa melhora a qualidade do solo e da água, contribuindo para mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. 

O processo de germinação também é diferente dependendo da espécie. Na natureza, as sementes passam por determinadas etapas para conseguirem germinar. “É o que chamamos de ‘quebra de dormência’. Aqui no Viveiro, para quebrarmos a dormência de algumas sementes, utilizamos diferentes estratégias, como imersão em água quente, imersão em água fria e escarificação”, esclarece Flávia. Como são muitas espécies, cada uma com suas peculiaridades, o tempo de produção também varia. Segundo Flávia, as espécies que crescem mais rapidamente e se desenvolvem melhor podem ser produzidas em cerca de dois meses; já outras, mais lentas, precisam de mais tempo até estarem prontas para serem plantadas em campo.   

A produção é intensa. Atualmente, no Viveiro Florestal Copaíba, são produzidas em torno de 130 mudas de espécies nativas diferentes da Mata Atlântica, presentes nas bacias dos rios Camanducaia e Peixe – leste do estado de São Paulo e Sul de Minas Gerais. “Trabalhamos uma ampla gama rica em diversidade com frutíferas, como pitanga e araçá, por exemplo, espécies nobres, como jequitibá, peroba, jatobá, copaíba, cabreuva, plantas medicinais, entre outras espécies que podem ter vários usos.”, comenta Flávia. A lista foi elaborada com base em estudos florísticos e fitossociológicos realizados na região, além de referências bibliográficas sobre a vegetação nativa desses estados e levantamentos feitos em campo.  

Foto: Katia Mazolini/divulgação

Por fim, um requisito para a restauração efetiva dos ecossistemas é a necessidade de sensibilizar e conscientizar a população, o que pode acontecer por meio da educação ambiental e das políticas públicas locais, fundamentais para o fortalecimento das atividades. “Toda a cadeia da restauração é muito trabalhosa, demandando um esforço conjunto de diferentes agentes, começando pela prospecção das espécies e coleta das sementes, passando por cada etapa de produção e manutenção realizada no viveiro. No campo, esse trabalho continua no diagnóstico da área e na preparação do solo, no plantio e no acompanhamento, lidando com os desafios da mão de obra e da equipe técnica qualificada”, finaliza Erika Xavier, responsável pela comunicação da Copaíba. 

O trabalho realizado no Conservador da Mantiqueira tem sido apoiar e fomentar a cadeia da restauração, unindo a esfera pública, o terceiro setor, as instituições de ensino e o setor privado. Estimulamos os municípios a criarem legislações de restauração dentro dos seus planos de governo para que essas políticas incentivem os proprietários rurais a integrar ações de conservação do solo, da água e da vegetação local. Essas ações fortalecem todas as etapas: semente, muda, viveiro, plantio, cercamento e monitoramento, contribuindo para que a rede se expanda, porque entendemos que agir coletivamente é a forma mais potente para realizar as mudanças que precisamos.  

Cadeia da restauração pode gerar empregos 

A restauração dos ecossistemas, para além do papel fundamental de mitigar a degradação ambiental e seus impactos negativos – como as mudanças climáticas e a perda de biodiversidade -. é uma potente fonte de geração de empregos, contribuindo com o desenvolvimento econômico em áreas rurais. É o que indica o estudo ‘Potencial da Restauração de Ecossistemas para a Criação de empregos no Brasil’, da Sociedade Brasileira de Restauração Ecológica (SOBRE). 

O artigo, proposto como um “Sumário para políticas públicas”, assinala a importância do trabalho de instituições como a do Viveiro Florestal da Copaíba, da produção de sementes até a implementação de ações de conservação, que, além de contribuírem para o ganho de escala da restauração, aumentam o potencial econômico de geração de empregos. Também ressalta a necessidade de integrar essas iniciativas às políticas públicas, de modo a garantir que os benefícios sociais e econômicos da restauração sejam maximizados, aliando à questão ambiental o desenvolvimento sustentável. Como afirmam os autores, “as iniciativas de restauração de ecossistemas no Brasil podem ser grandes geradoras de postos de trabalho, com potencial de criar 1 a 2,5 milhões de empregos diretos, por meio da restauração de 12 milhões de hectares até 2030 (meta do Planaveg – Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa)”. Saiba mais sobre o estudo aqui.

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